O
melhor esconderijo é a luz.
Os
olhos calmos mirando o horizonte não traduziam a dor de seu passado. Abraçando
os joelhos, sentado à beira da praia, olhava as ondas, que se arrastavam para
perto e, preguiçosamente, iam-se embora. O vento soprava-lhe a face, um afago
morno da natureza. Mais um pôr do sol e um dia a menos. Levantou-se lentamente
e dirigiu-se ao carro. Abriu a mala, olhou-a. Os olhos calmos agora pensativos.
A
fidelidade e a solidão desde sempre se acompanham. A vida de Eduardo nada fora
senão dor. Se aos oito anos o pai morrera, a mãe o acompanhou por mais algum
tempo. Sem irmãos, aos dez anos de idade conheceu os braços da orfandade e as
crueldades da coisa pública. A religião, largara assim que perdera a mãe: Já
não fazia sentido crer em Deus.
Dirigia
calmamente, olhando os postes passarem. A orla desaparecia no retrovisor
enquanto a noite comia o dia. O sol refletia curtamente num fio de cobre
enrolado sobre o painel do carro. Não morava tão longe da praia, vivia bem.
Tornara-se há pouco professor da Universidade, chegando a ganhar o bastante
para se manter tranquilamente. Pensava nas aulas que estavam por vir, nos
alunos novos, nos próximos desafios. As mãos moviam-se devagar.
Num
orfanato a vida nem sempre é tão passiva. Existem sempre as rinhas e as regras
a serem seguidas. O excesso de crianças eleva o perigo da carne. E por meados
do segundo ano como órfão, Eduardo conheceu a dureza de ser criança bonita.
Seus olhos castanhos em contraste com sua pele clara fizeram-se irresistíveis.
Nestor, o porteiro, prometia-lhe sempre um carro de controle remoto.
Chegando
em casa pôs-se na cama, a consciência afundando no travesseiro rapidamente.
Sozinho, põe as mãos por trás da cabeça e pensa na próxima. Sem comer, apenas
toma seus remédios e, encolhendo-se, dorme. O sonho inexiste, e a escuridão o
decora por dentro. A noite passa rápido até que o sol reaparece. Eduardo
levanta-se cedo, mirando o nada, ainda com sono. Lembra do serviço que tem de
fazer.
Após
entender o porquê das promessas do porteiro, Eduardo fugiu. Correu para nunca
mais. Por sorte, encontrou uma velha, uma daquelas senhoras de bom coração para
quem a alegria transforma-se num animal raro. Decidiu cuidar do garoto, que
agora contava treze anos. Regularizou a situação diante das instâncias
pertinentes e adotou o menino. Eduardo agora era Eduardo de Albuquerque
Silveira, tinha nome e sobrenome. E mãe.
Finalmente
comeu alguma coisa. As louças por lavar, livros sobre a mesa e as moscas
aproveitando a situação. Depois de alimentar-se pegou a pá, tinha de ser
rápido, porque às sete já haveria de dar aulas. Dirigiu-se ao quintal, cujo
terreno era íngrime. Escolheu um cantinho específico, já que havia pouco espaço
aproveitável e, retirando a blusa, começou a cavar.
Colégio
bom, boa comida, bons modos, tudo isso fazia parte da vida de Eduardo, agora. A
velha provia-lhe de tudo. A biblioteca da casa era vasta, pois o grande Enéias
Silveira, falecido marido da velha, era homem culto e abastado. Ela não sabia
ler. À noite, ele contava as histórias dos contos que lia, os romances que
iniciava. Para aqueles mais chatos, acrescentava um novo final. E assim Eduardo
divertia sua mãe, dando-lhe a felicidade do fim da vida. Ela morreu quando ele
completou dezoito anos.
O
pacote era pesado. Arrastava-o com dificuldade. De vez em quando parava: o
caminho da garagem para o quintal era longo. Chegando próximo ao buraco, abriu
pela última vez o saco, pondo a mão arrastadamente. Por dois minutos ficou
olhando para dentro dele. Enquanto o vento batia nos cachos pela última vez. Fechou
e jogou o saco bruscamente no buraco. Com movimentos rápidos pôs-se a tampá-lo.
Ao fim, ajoelhou-se, apoiando-se na pá e chorou.
Tentou
matar-se primeiro por asfixia, mas desistiu. Depois, por envenenamento, mas
resistiu à dose. Convenceu-se, então, de que não teria nada que quisesse na
vida. E a partir de então Eduardo decidiu mudar, e começou a estudar, praticar
esportes, conhecer pessoas. A herança da velha deixou-o confortável na vida. As
pessoas aproximavam-se mais facilmente, e também distanciavam-se. Aos vinte
começou o curso de Letras.
Depois
de um banho demorado, para tirar todas as energias negativas, Eduardo vestiu-se
e olhou em sua agenda o que tinha de fazer naquele dia. Aula, aula, orientação,
almoço, aula, janta, orientação: esses eram os deveres. O fim do semestre
estava chegando e a rotina começara a ficar cansativa. Os alunos tornavam-se
chatos. Repentinamente vinha à cabeça a imagem da pessoa dentro do saco.
As
mulheres nunca foram alvo de seus olhares. Talvez pelas perdas, desacreditou
nas relações humanas. Imaginava-se um imã de mortos. Logo, não queria mais
matar ninguém. Relutou por meses antes de falar com a primeira garota na
universidade. O nome dela era Vera, uma moça tímida de bonito sorriso.
No
ambiente em que trabalhava era benquisto. Se alguém pensasse em desabafar, os
ouvidos de Eduardo estariam sempre à espera. Dinheiro emprestado: era ele quem
ajudava. É, na vida adulta, aquilo que sua infância quis impedir. Tornou-se um
homem muito melhor do que aqueles que lhe tiraram a inocência. Entre a aula da
tarde e a janta, Eduardo foi passear.
Vera
se aproximava de mansinho, com piadinhas e meias verdades. Eduardo passou a
gostar da ideia. Começaram a sair, como amigos. Falavam de tudo, menos do amor.
Num destes tantos passeios, na praia, sentados na areia, o rapaz viu, de longe,
uma morena que lhe fez o peito apertar, e perceber que Vera era mesmo sua amiga
e só. Ao ver a moça levantar, não só seu peito ficara pequeno, mas seu calção
também.
Ia
à praia, o lugar em que sempre se sentia mais à vontade. O carro lento sobre a
estrada. Parou, desceu e caminhou até a areia. Como era dia de semana, pouca
gente estava lá. Olhou por toda parte, procurava a próxima. Tinha de ser
pequena, por causa do espaço. Avistou uma morena que, em pé, com as mãos em
forma de aba, olhava o horizonte. Prosseguiu:
-
Se olhar direito, a vida da gente vai parecer pequena. É melhor não fazer isso.
– disse à moça, seguro.
-
Mas a vida da gente é pequena idependente disso – disse, olhando-o sem entender
nada, a princípio.
-
Gostei de você... – sorrindo e estendendo as mãos, enquanto o sol fazia morada
em seus olhos castanhos.
Ele
perguntou para Vera se ela não conhecia a morena. Estava envergonhado e sabia
que a amiga não iria gostar da pergunta, mas se não tentasse, talvez jamais
veria, novamente, aquela mulher. Vera respondeu que não, que devia ser uma
mulherzinha dessas que vem se exibir na praia, e que não prestava e que talvez
fosse até mulher de traficante. Eduardo riu e levantou-se. Pela primeira vez
sentiu o Homem em si falar e, caminhando sem olhar para trás pôs-se em encontro
da moça, que exibia, além do corpo, um belo cabelo cacheado. Vera o olhava,
chateada.
-
O meu nome é Eduardo – trêmulo e estendendo a mão.
-
Como é que é, garoto? – ela tinha feições de experiência. Seu rosto era mais
velho quanto maior a proximidade, mas ainda assim bonito.
-
O meu nome. É Eduardo. E o seu?
-
Por que eu diria? – rindo em deboche rápido. O garoto enrubesceu e a moça
continuou – o meu nome pode ser qualquer um que você quiser. Qual você prefere?
-
Qualquer um? Por que não o seu mesmo?
-
Eu tô te dando uma chance de continuar a conversa, garoto...
-
Ok, então! Vou te chamar de Penelópe.
-
Que nome bonito... por que esse nome?
E
se entenderam a partir dali. Penélope era mais velha que Eduardo, e mais
experiente que o garoto, que jamais encostara numa dama. Vera foi embora sem
ser percebida, embora sua respiração e xingamentos estivessem num tom
consideravelmente altos.
A
tarde estava bonita e Eduardo já convencera a jovem a sentar-se à sombra para
conversarem. Ela tinha a idade de suas alunas, seria fácil de dobrá-la. Dentro
de alguns minutos Eduardo conveceu-na que suas bocas eram compatíveis,
beijando-a com tanta severidade que a morena espantou-se, embora tenha gostado.
Do beijo na calçada para o carro foi menos de um minuto. Ele dirigiu até um
motel barato, destes de beira de estrada, e a jogou na cama com força. A garota
transitava entre assustada e sedenta. Os cabelos dela, em pequenos cachos,
deitavam-se na cama, enquanto seus olhos viam o Homem retirar a camisa. Ele
deitou-se sobre ela arrastando a mão desde o quadril até a nuca, em um
movimento lento e firme. Uma vez à nuca, puxou os cabelos da moça com vontade,
ao passo que a boca dela abria suavemente, mostrando os dentes brancos em meio
aos lábios grossos. A outra mão segurava a cintura, apertando-lhe,
comprimindo-lhe a parte lateral da barriga. Não suportando a boca semiaberta,
beijou-a animalescamente, enchendo de língua o bonito vazio da moça. As línguas
roçaram-se devagar, e ele puxava com mais força os cabelos. Descendo a boca,
pôs-se a acariciar com a língua o pescoço teso da moça, beijando e sugando toda
a pele daquela região. A morena contorcia-se, queria-o em si. Colocou as mãos
nas costas dele, forçando-o contra seu corpo. Ele pode sentir os seios hirtos,
que convidavam-no. Tirou num movimento rápido a blusa da moça, depois a parte
de cima do bikini e sugou os seios da morena, apertando-lhe a cintura e
retirando, ao mesmo tempo, o short curto que ela estava. Ela agora fazia
barulho, e mandava-o continuar, sôfrega bela. Resolveu descer vagarosamente a
língua desde os seios até o fim da barriga, quando, com os dentes, puxou a
calcinha da moça, que remexeu-se para ajudar a retirá-la melhor. Eduardo
permaneceu alguns segundos admirando o sexo da moça, que tinha tinha aquela cor
que não se vê, mas se sente - própria da pele morena. Parecia ser frágil, e
tinha um filete de pelos, contrastando com o resto impúlbere. Ele passou a mão
nos lábios, acariciou os poucos pelos, olhou nos olhos da moça e ela parecia um
animal com medo da morte, suplicando pela vida. A boca de Eduardo encontrou o
sexo da morena antes que ela conseguisse imaginar. E ele sugava tão forte que o
prazer a fazia gritar. E mordiscava os lábios, enquanto passeava as mãos por
sua barriga. Ela gemia, retorcia as pernas, empurrava a cabeça de Eduardo
contra sua flor. Ele solvia-lhe pétala por pétala, até que introduziu um dedo,
fazendo movimentos vagarosos de ida e volta. E quando voltava arqueva o dedo, e
a morena gemia, gritava... Eduardo aumenta o ritmo, e suga, põe mais um dedo,
agora são dois... vai e volta, agora rápido, agora lento, agora gira, a língua
roça, os lábios sugam, os dentes mordem, os dedos indo voltando, rápido... a
morena grita e empurra com mais força a cabeça de Eduardo, comprimindo-a com as
pernas. E assim fica por dez segundos: estática, gemendo pausadamente. Ele se
levanta, tira a calça; ela vem como uma fera para cima do Homem. Arranca-lhe a
cueca e busca o sexo dele para molhá-lo com sua saliva de Mulher. Primeiro
enche a mão com o músculo hirto de Eduardo, repuxa-o até ver a rosada ponta de
seu sexo. Põe a ponta da língua lentamente, olhando nos olhos do Homem, e
brinca, lambendo a extremidade inferior do prazer. Depois, abraça o músculo com
sua boca, abafando-o quente e molhado. Lembra dos dedos de Eduardo em seu sexo
e repete a intensidade do movimento, rapidamente, sugando com força e, com a
mão esquerda, movimentando-o para frente e para trás. Agora ela retira o órgão
da boca e segura-o firme, batendo em seu próprio rosto, para depois beijar o
quadril de Eduardo, fazendo seus pelos eriçarem-se. Vendo que o Homem estava
pronto, deitou-se de bruços e levantou levemente seu quadril, virando o rosto
para Eduardo, na espera de seu domínio. Ele pôs a camisinha, ajoelhou-se, puxou
o quadril da morena mais para si e, com calma, introduziu na moça o seu sexo. O
Homem segurava nas ancas da morena, ajudando-a no movimento. Ela o observava,
com a boca súplice, semicerrada, os dentes brancos, o cabelo cacheado sobre o
lençol. Ele ia, voltava, ia, voltava, pressionava agora suas costas, puxava-lhe
o cabelo, ela gritava de prazer, enquanto ele aumentava o ritmo; e os dois, ao
mesmo tempo, sentiram-se aliviados. Ela quer mais. E mais uma vez repetem o
ato, até que Eduardo se vê cansado e olha pela janela: osol estava baixo. Ele
levanta-se e diz que está tarde, precisa voltar ao trabalho. Ela entende e
aquiece ao pedido de ir embora. Ele paga o motel, e saem. A morena parece meio
boba; ele, sério. Param num terreno baldio, de onde notava-se o sol se pôr. Ele
pega o fio de cobre que repousava sobre o painel do carro enquanto ela admira o
dia terminar. Rapidamente Eduardo passa o cobre pelo pescoço da moça e aperta
até que a vida expire de seu corpo, afinal, tinha certeza de que não era ela.
Retira o cadáver quente do carro e coloca-o num saco, pondo-o, depois, na mala.
Ninguém viu, como sempre. Voltou para a praia.
Penélope,
percebendo a ingenuidade do garoto, chamou-o para um canto mais reservado e
começou a brincar. Eduardo ficara encantado com a mulher e olhava para seu
corpo, indiscretamente. Ele queria, quem sabe, tê-la naquele dia. Pensava em
namorar, um dia no zoológico, salvá-la dos perigos, das coisas ruins da vida,
queria pedi-la em casamento, ser um bom homem para uma boa mulher, como nos
livros que lera. Àquela altura, esquecera até de seu complexo modo de pensar
acerca das pessoas. Penélope percebia tudo. Via-o nervoso, as palavras
travando. A mulher pôs a mão na coxa do garoto. Ele estremeceu, o sexo
despontando no calção. Vinte e dois anos e Penélope era a primeira mulher que
colocara as mãos em suas coxas. Já era fim de tarde, e o sol começava a baiejar
o mar. A mulher alisava-lhe a coxa, enquanto o rapaz tremia. Ela, olhando ora
para ele, ora para suas amigas, ria uma mistura de luxúria e brincadeira.
Sentiu o músculo teso de Eduardo, que imaginava o que ela pensava: com certeza
estava gostando, queria, quem sabe, namorar com ele e passar todos os fins de
semana ao seu lado, ter filhos, bons empregos... mas ele ejaculou antes que
Penélope pudesse encostar sua pele macia em seu sexo. Ela sentiu, na feição de
Eduardo, que suas ações por baixo da mesa já haviam surtido efeito. Olhou para
as amigas e perguntou se já estava na hora, ao que elas responderam que sim.
-
Entenda, Eduardo, eu realmente gostei de você. Você é muito engraçado. – sorrindo.
-
Mas você já vai?
-
E você queria me levar para onde mais? – levantando-se.
-
Mas... achei que...
-
A noite já está caindo, e eu sol um pouco mais velha que você. Não leve a mal.
Você sabe que o que eu fiz com você não seria nem o começo, né? – ele balançou
a cabeça positivamente. – então, acha que daria conta de mim?
Eduardo
estava estático. Não sabia o que fazer. Era tão fácil nos romances. Penélope se
levantou e ele olhou pela última vez o corpo da morena: rígido, os seios
redondos e a barriga suave e vazia, os cachos ao vento...
-
Outra coisa, Eduardo: não há mulheres certas depois do pôr do sol. – disse,
virando-se e indo embora.
Todas
as almas femininas foram forjadas no inferno.
E
o Rei dos Céus desprotagonizava o dia, entrando no mar. Enquanto Penélope
caminhava, Eduardo sentia um misto de raiva e solidão, uma dor que desmentia o
estado da cueca. Ele cresceria, mostraria a Penélope que era, exatamente, o
homem do qual ela precisava. Depois de dez anos pôs-se a procurá-la.
Os
olhos calmos mirando o horizonte não traduziam a dor de seu passado. Abraçando
os joelhos, sentado à beira da praia, olhava as ondas, que se arrastavam para
perto e, preguiçosamente, iam-se embora. O vento soprava-lhe a face, um afago
morno da natureza. Mais um pôr do sol e um dia a menos. Levantou-se lentamente
e dirigiu-se ao carro. Abriu a mala, olhou-a. Os olhos calmos agora
pensativos...
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